Considerações acerca das ideias transcendentais na filosofia teórica de Kant
Resumo
Uma análise atenta da Dialética Transcendental, uma das partes da Crítica da razão pura, pode conduzir o leitor a um (aparente) estranhamento sobre a posição kantiana defendida no Apêndice àquela parte. A despeito da rigorosa delimitação espaço-temporal do conhecimento humano, Kant curiosamente admite que, quando usadas regulativamente e com uma validade subjetiva, as ideias transcendentais de sujeito pensante (alma /psychologia rationalis) e de totalidade de tudo o que é capaz de ser pensado (Deus/theologia transcendentalis) podem ser dotadas, ainda que como um problema, de realidade objetiva. Não obstante, tal realidade não pode ser aplicada, nem mesmo problematicamente, às ideias cosmológicas, pois atribuir realidade objetiva a tais ideias contradiria radicalmente aquilo a que elas dizem respeito: a totalidade da série regressiva do mundo fenomênico. Essa contradição, no entanto, não acontece com as ideias de alma e de Deus, pois, diferentemente das ideias cosmológicas, que pressupõem como dada uma série que diz respeito ao sensível, aquelas dizem respeito a objetos do mundo suprassensível.